quinta-feira, 24 de maio de 2012

Ô meu rei...

Bahia de todos os santos, aromas e sabores.
Terra do candomblé, da alegria, da folia
e de uma leseira sem igual.
Lugar de uma comida nada desenxabida, 
de um povo puxado no dendê e carregado de uma boa pimenta. 
Esta é a origem de um recente,
inusitado e inesperado café da manhã. 
Acordar com o tilintar do telefone, nem sempre,
é sinal de mau agouro. 
Dia desses, fui desperta com a notícia de que um GRANDE AMIGO
deixairia em minha porta uma encomenda pra lá de boa. 
"Vixi, mas não é que ele trouxe mesmo! Rapaz!"
Juntos, estivemos na Bahia há pouco mais de um ano.
Lá, tive meu primeiro e inesquecível episódio de aciedade. 
Aquela sensação única de que um gato inquieto 
não só habita seu estômago mas pretende sair por sua boca, 
enquanto alguém - sabe lá Deus, quem - 
o puxa pelo rabo, insistinto pra ficar.
Lá, também descobri que fazer a sesta é curativo. 
Cura preguiça, ressaca e até azia! Abranda o gato!
A razão disso tudo é uma especialidade gastronômica
da culinária afro-brasileira.
Uma massa de feijão fradinho frita no dendê
e acompanhada de pimenta; camarão seco;
vatapá - papa feita com farinha de arroz, fubá ou pão dormido,
a que se acrescentam leite de coco, peixe, camarões frescos,
amendoim e castanha de caju torrados e moídos -;
caruru - papa de quiabo - e salada.
ACARAJÉ
Comida ritual da orixá Iansã. 
Na África, é chamado de àkàrà que significa bola de fogo, enquanto je possui o significado de comer.
No Brasil foram reunidas as duas palavras numa só, acara-je,
ou seja, “comer bola de fogo”.
Principal atrativo no tabuleiro,
ao ser vendido num contexto profano, 
ainda é considerado, pelas baianas, como uma comida sagrada. 
Por isso, a sua receita, embora não seja secreta,
não pode ser modificada, 
devendo ser preparada apenas pelos filhos de santo. 
Na tradição religiosa, o primeiro acarajé frito
sempre é oferecido a Exu por sua primazia.
Os seguintes, são fritos normalmente e ofertados aos demais orixás
e aos humildes mortais que se entregam aos deleites mundanos. 
Ao meu amigo, restam poucas palavras:
thank you and keep walking. Priscilla Sarah - aprendiz de cozinheira.

sábado, 19 de maio de 2012

Do latim, mater


Tem uma propaganda que diz: quando nasce uma criança, nasce uma mãe. 
Para mim, o nascimento de uma criança traz consigo dois verbos: amar e abdicar. 
Ser mãe é aumentar o patrimônio de forma inenarrável 
e perceber que seus pretences se esvaem com o sopro do tempo.
Ser mãe é sentir intensamente e não sentir nada. 
É sentir a dor da alma sem perceber a dor no corpo.
É sentir um sono imenso sem pestanejar até ouvir o som do regresso.
É sentir fome e, ainda assim,  doar o único provento.
É sentir as lágrimas desregradas correrem pelo rosto na alegria e na tristeza.
É ter a certeza de que, apesar das intempéries da vida, somente a morte nos separa.
É ser irracional. É agir por impulso. É estar sempre pronta pra tudo.
É calcular e recalcular riscos e não arriscar.
É tornar-se desemxabida sem perder a harmonia.
Enfim, ser mãe simplesmente é...sublimar.

Há alguns anos, decidi presentear minha mãe, sogra e amigas mães com um dia para si.
Um dia para não fazer nada. Nada mais certo e justo.
Uma recompensa pelos anos de dedicação.
Uma ótima desculpa para criar e cozinhar.
Uma oportunidade única de retribuir, servir, adular, degustar, vivenciar e amar.
Afinal, aromas, cores e sabores sempre proporcionam a união do que parece esparso.


Parabéns mães!!!
Priscilla Sarah - aprendiz de cozinheira.