Palavra de origem francesa - nostalgie -, é o estado melancólico causado pela falta de algo. Misto de alegrias e tristezas. É, em particular, fiel escudeira. Às vezes aparece para auxilio da mente ... outras tantas para esmagar pobres corações. Surge do nada e com o pé na porta não pede licença, entra e toma conta de tudo. Dizem ser característica nata - porém não exclusiva - de cancerianos. O que a traz? A chuva, um dia de sol, talvez uma música ou mesmo um objeto. Toca o mais íntimo de nosso ser. Capaz de nos transportar por décadas e décadas a lembranças remotas. Nos reconduz a momentos ímpares - fatos findos. Em boa parte das vezes, é até difícil conter as lágrimas - que descem frias pelas maçãs do rosto e pousam no colo -, carregadas do mais tocante aroma - aquele que não volta mais. Lembranças... Soltas ao vento, são como as bolas de sabão de uma infância distante.
Uma infância de corda, pique-esconde, pega-pega, bola de gude, ioiô, taco, queimada - que juntos, resultavam em uma combinação de ardência única - merthiolate - até então permitido - com band-aid. Risos e choros ... Permanecer enclausurado entre quatro paredes era algo inconcebível. O céu e a rua eram o limite. Os jogos e amizades eram reais e vivenciados ao extremo. Uma vida regrada e sem regras. Tínhamos obrigações e horários definidos. A escola vinha seguida da lição de casa ou tarefa. Depois disso, liberdade. Sentíamos o frescor do vento em nosso rosto sujo e suado. Tudo acontecia ao seu tempo. As descobertas, ensinamentos ... a vida. Não se pulavam etapas... Em determinados horários, a canção dos risos que tomava a rua era substituída pelos gritos - chamados de gerações de genitoras para a farta mesa. Uma festa!!! As mãos eram lavadas pelo simples hábito já que germes, micróbios e bactérias não existiam. Não existe o que não se vê!!! Para mim, tudo isso acontecia com mais intensidade na casa minha avó - Dona Adal - figura ilustre e única. Na maior parte das vezes eram tantas crianças que a preferência era por guloseimas que rendessem e muito. Pães recheados - salgados e doces. Leite, muito leite!!! Às vezes temperado com gemas e vinho - sinônimo de crianças felizes e saudáveis. O que nunca faltava era o bolo de gelatina - retrato de infância. Redondo, colorido e divertido - como as bolhas de sabão - dava asas a nossa imaginação...
Nostalgia - ainda não sei se triste ou feliz ...
hoje, ela me faz companhia.
Priscilla Sarah - aprendiz de cozinheira.