quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

O regressar do café com bolo!

Histórias de vida são sempre repletas de relatos surpreendentes. 
Felicidades, tristezas, angústias,  conquistas... 
Aos três meses, uma fatalidade culminou na subtração da oportunidade de convívio paterno. 
Vínculos familiares foram mantidos e estimulados mas, fato é, 
que as relações maternais sempre foram mais presentes. 
Constantes sim, não mais intensas.  
Migrei, por escolha e decisão alheias. Desamei. 
Assentei-me. 
Mas, por mais que tempo escoe pela ampulheta, 
o dissabor volátil ainda reflui e exibe seu fel. 
E, em meio a sentimentos ambíguos, compus. 
Factualmente, o rio segue seu curso e, intempestivamente, a correnteza me leva ao prelúdio. 
Por anos estive distante mas o destino me leva de volta. 
No horizonte vislumbro a esperança  de zarpar mais uma vez. 
E, quem sabe, em breve, estejamos reunidos. 
E, se assim for, que seja sempre acompanhado de café, bolo e amor...


Priscilla Sarah - aprendiz de cozinheira!

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Para se estar junto, não é preciso estar perto….

É com essa frase meio clichê que retomo meus devaneios e divagações. 

Na oportunidade de estar distante - sem estar só - descobri, no inesperado contato diário e na vigília insistente, amizades sinceras. 
Através de uma pequenina fresta, vislumbrei novos mundos. 
Estive nos mesmos lugares, mas com pessoas distintas. E os sabores tornaram-se desiguais. Não melhores nem piores, apenas diferentes. Visitei novas casas, vivenciei novas experiências, apresentei-me a novas pessoas, percorri novas crenças. 
Durante esses dias mantive-me, involuntariamente, em busca de aromas, texturas e sabores que me levassem a você. E, lhe procurando, me encontrei. Me descobri repleta de afeto e de uma saudade enorme de algo que não havia perdido.  
Deparei-me, a cada amanhecer, com inúmeros bons dias. A cada instante, vínculos despretensiosos enlaçavam-se de forma relevante. Afagos na alma, alento ao coração. 
E, em meio a isso tudo, o que era pra ser ausência, tornou-se presença... 
Sigo proferindo minha gratidão ao Sanatorinho por seus cajuzinhos, cordeiros, churrascos, doritos, bolos, risotos, ceviches, paçocas, saladas, cafés, pizzas, cervejas, pavês, vinhos, caranguejos, bolinhos de carne acompanhados de macarrão com brócolis e muito amor. 
Obrigada por fazerem parte de minha vida e tonarem a jornada mais branda. 

Priscilla Sarah - aprendiz de cozinheira.

sábado, 13 de agosto de 2016

O desabrochar de uma menina flor...

Os caminhos incertos da vida - nem sempre repletos de alegrias - impactam, de forma significativa, nossos corações e trazem consigo novas possibilidades. Novas portas e janelas se abrem. Destas últimas, temos a visão de novos horizontes e novas gentes. Muitas destas pessoas, apenas passarão. Porém, a parte que fica, torna a vida repleta de doces surpresas. 
Linda menina - pequenino botão que evolui a cada dia - você tornar-se-á, com certeza, a mais bela das flores. Sua meiguice contagia. E, em cumplicidade com seu sorriso maroto, invade fortalezas. Você chegou de mansinho e bem devagarinho conquistou o seu lugar. Com todo o seu carinho, inundou nossa existência. Siga seu caminho. Desabroche. Floresça. Contudo, sempre que possível, regresse com a certeza de que você construiu aqui um porto seguro repleto de amor e respeito. E, por mais longa que seja a espera, estaremos sempre de braços abertos e corações escancarados.


Priscilla Sarah - aprendiz de cozinheira.

domingo, 3 de julho de 2016

Aroma de infância

Faz tempo...
Há tempos nada tem se tornado público. 
Há tempos guardo, somente para mim, diversas experiências e sentimentos. Mas hoje, subitamente, um cheiro de infância invadiu minha alma.  Fui tomada por uma lembrança única que me fez perceber como sou feliz.  Aliás, como fui feliz a vida inteira. Sempre tive amor, carinho e afeto. 
Vivenciei prazeres inigualáveis. Fui amada de uma forma pura e incondicional.  Um destes amores vinha sempre carregado de cheiro de bolo, de massa de pão crescendo e 
de molho de tomate apurado, por horas, em fogo baixo. Cheiro de amor.  Aliás, o amor torna tudo muito mais leve.  Amor de vó, amor de mãe, amor de marido, amor de família e de amigos (a família que escolhemos). Hoje, iniciei a saga de pagamento de promessas gastronômicas a duas enormes amigas.  Irmãs de coração que demonstraram seu amor em plena turbulência. 
Porém, foi numa calma manhã de domingo, deitada na rede, 
observando os pássaros surrupiarem as doces jabuticabas do quintal,  ouvindo a lenha estalar no fogão que, brandamente, cozia ossobuco,  que senti mais uma vez aquele cheiro.
 
A princípio pensei ser a lembrança do molho de tomates.  Mas não.  Sua presença se fez presente através do aroma de suas doces mãos.  Pude sentir seu afago na manta que você fez para o filho que nunca tive.  Coberta por seu amor, tive meu coração aquecido e 
entreouvi em meio a diversos outros soídos a doce palavra: filhota. 
Com os olhos marejados, mostrei-me grata a você por todos os aromas de minha infância.
Priscilla Sarah - aprendiz de cozinheira.

sábado, 29 de novembro de 2014

Parece que foi ontem...

...que decidi, estimulada por amigos de longa data e familiares, a me inscrever no curso de gastronomia. Na época, hesitei por um breve segundo. 
Era mais um desafio, mais um curso superior, mais um compromisso diário. Sendo profunda conhecedora de meus princípios, sabia que, ao ingressar, não teria como voltar no tempo. Aliás, que tempo?! Durante estes breves longos dois anos, este tempo tornou-se escasso. Uma jóia rara. 
Deixei de lado algumas relações, estive presente só de corpo em alguns momentos, mas valeu. Valeu o aprendizado e o conhecimento adquiridos. Novas pessoas passaram a fazer parte de mim. Algumas, com certeza vieram para ficar. Outras tantas, apenas transitaram e esvaecerão com brevidade. Parece incrível, mas de algumas, não sei sequer o nome. 
Hoje, finda a jornada, emerge a reflexão. Uma reflexão envolta em saudosismo e carregada de saudade. Um momento repleto de serás... Será que??? Mas como o tempo é implacável e não volta mais, este será terá que ser deixado de lado, pois já foi. Agora é seguir adiante e se permitir... Experimentar, testar, errar, refazer, viver e, acima de tudo, sorrir. Em poucos instantes me desarmei, me aquietei e observei o habitat de uma cozinha com todos os seus sons, aromas, cores e sabores... Com toda aquela gente. Uma humanidade reunida por razões distintas. Alguns, em busca de um sonho. Outros, almejando um ganha pão. Outros tantos, só por diversão. Mas haviam também ali ingredientes que buscavam a cura. A cura para os males do corpo e da alma. 
Deixo aqui enunciado meu carinho especial por algumas destas pessoas: Deise Brugioni, Fernanda Cosentino, Isabel Lelis e Renata Jardim - que por razões distintas, não completaram a jornada. Stella Lago que ainda tem um longo caminho pela frente. 
Maíra Gerótica Rangel, uma menina com problemas de gente grande... Confesso que, de cara, a quis como amiga mas tinha a incerteza do tempo que jogava contra. E jogava bem sujo. Mas como tudo na vida passa, passou e vc ficou. E floresceu novamente. 
Adriana Franco ... francamente! Uma figura em forma de gente, uma mãe maravilhosa, uma MULHER... Vc me ensinou a auto permissão. Então, PERMITA-SE! 
Juntas, atravessamos momentos turbulentos, enfrentamos nossos medos e receios e crescemos. Colocamos a mão na massa e fizemos a nossa história. 


Agora, desarmadas, temos a opção de permanecer como meras espectadoras da vida que segue. Ou podemos fazer acontecer...
Priscilla Sarah - aprendiz de cozinheira.








sábado, 7 de junho de 2014

"Releituras"


Quem nunca viveu um grande amor? 
Quem nunca sofreu por amor? 
Quem nunca amou?

O dueto Romeu e Julieta tornou-se famoso pelas palavras de William Shakespeare. Porém, poucos sabem, que a verdadeira origem deste romance avassalador data de 1510/60, quando Matteo Bandello, poeta e bispo italiano – protegido de Henrique II (rei da França) – tornou públicas suas 214 Novelas. Em 1562, prestando uma homenagem póstuma, Arthur Brooke traduz o poema original para a língua inglesa e o publica sob o nome de 'A Trágica História de Romeu e Julieta'. William Shakespeare, por sua vez, tem seu primeiro contato com o texto original somente em 1591. Nos primórdios de sua carreira literária, o escritor levou quatro anos para reescrever a história, dando destaque aos personagens secundários – Mercúrio e Páris – no intuito de expandir o enredo.
Romeu e Julieta pertence a uma tradição de romances trágicos que remonta à antiguidade. Da mesma forma, "romeu e julieta" pertence a uma relação amorosa e, por vezes antagônica, da cultura gastronômica brasileira.  Queijo e goiabada advêm de modos de fazer portugueses. O rapaz surge numa tentativa de reprodução de queijos de cabra tão comuns naquele país. Já a moça, aparece pela substituição de uma fruta na produção de compotas. Ambos caíram no gosto popular, sendo prontamente aceitos pela realeza e por seus vassalos. 
Partindo de uma proposta de releitura contemporânea a partir de um tradicionalismo brasileiro, surge Shakespeare em IV ATOS. Trata-se de um deleite aos sentidos a ser degustado em quatro etapas.
I ATO – doce de goiaba em calda, acompanhado de creme de queijo azedo e ornamentado por um delicado tuile de parmesão - representa o momento em que Romeu entra na vida de Julieta. Desde sempre, tornam-se complementares e inseparáveis.  

No II ATO – mini bolo de queijo com calda de goiabada cascão - Julieta envolve seu amado com todo o seu brilho e sua doçura, permanecendo, todo o resto, a cargo do cupido.

Originários de famílias rivais, o  III ATO – cheesecake invertido de goiaba com cookie de castanha de caju, recoberto por catupiry e chocolate branco - é uma representação da tentativa de afasta-los e de fazer sucumbir o amor. Julieta, oprimida, aparece sob a influência de sua família. Acima deles, está Romeu, ornamentado por rosas vermelhas, símbolos da paixão e do amor verdadeiro.

Por fim, o IV ATO – lágrima de queijo brie acompanhada de brigadeiro gourmet de goiaba - representa o fim trágico de um amor avassalador. Triste, Romeu chora ao despertar e perceber Julieta já póstuma sobre si. Tomado por um arrebatador desespero, nenhuma opção lhe resta a não ser a tentativa de reencontro. 

Para aqueles que responderam de forma negativa às indagações que iniciam o presente texto, ambos - Romeu e Julieta - sucumbem à morte. Para os demais, que tiveram lembranças despertas em um imaginário longínquo, a narrativa foi apenas uma passagem, uma etapa, uma busca para se viver um grande amor...

Priscilla Sarah...aprendiz de cozinheira e eterna apaixonada!

quarta-feira, 13 de março de 2013

Eu tinha uma galinha que se chamava Marilú!

Após uma exaustiva espera e uma imensa expectativa ... minha cozinha continua em reforma. Um tempo que não acaba mais. Que não se esvai rapidamente. A morosidade do processo, o incentivo dos amigos e amores e a adoração pela comida me levaram, num ímpeto, a voltar aos bancos escolares. É engraçado vivenciar um ambiente corriqueiro que, após 13 anos, tornou-se meu habitat natural, de uma nova forma. É curioso, desafiador, frustrante, divertido, único. Na verdade, é como andar de bicicleta. Uma vez que o fizemos, nunca mais esquecemos o modo de fazer e atuar. Ao sentar-se naquela carteira, voltamos a ser criança, voltamos a sonhar e imaginar um mundo melhor. Passamos a acreditar que, de fato, podemos fazer a diferença. Amo muito tudo isso! A possibilidade que tenho de compartilhar conhecimento – que antes acontecia somente enquanto atuava como docente – e que , em meu atual cotidiano, estende-se aos momentos em que sou, apenas, mais uma discente. Dias inteiros de novos saberes, sabores, aromas e sensações. Teorias imediatamente transformam-se em prática. A exposição a fatores incontroláveis e a ambientes e situações extremas, ressaltam, ainda mais, cada nota de sabor. Gerações distintas, tribos opostas, seres diversos interagindo… Alguns, tornam-se caça e vão direto para a panela. Contrariando Hans Staden  - Nem todos somos antropófagos! Mas ali, naquelas belas tardes, estamos todos – independente da tribo - abertos a novas experimentações. Nesta última semana, Marilú foi nossa vítima. Uma galinha que sobreviveu enquanto não existia a fome de conhecimento. Após um minucioso trabalho de mutilação e desossa, Marilú foi submetida a um sauté indireto. Para compensar toda essa tortura, recebeu um glorioso banho supréme. Muito bem acompanhada de aspargos sauté ao molho béchamel, batatas duchesse e alhos caramelados, Marilú foi inteiramente deglutida. 
Atentem-se: toda barbárie gastronômica causada por Alcides, Fernanda, Maíra, Priscilla e Renata, será recompensada. 
Priscilla Sarah - aprendiz de cozinheira.